sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo (Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Boas energias, sempre!

Tenho tantas coisas para falar, para agradecer e para comemorar! Mas, todas as vezes que tento parar, ordenar meus pensamentos e começar a escrever, não consigo... Mas, ainda não desisti (sou brasileira!rs)... 

Por hora, quero somente desejar um FELIZ NATAL para todas as pessoas, que por aqui passaram/passarem/passarão!!! Um beijo para todos!!!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Desejo de ser poetisa!!!

Felicidade? (Teatro Mágico)

Felicidade?
Disse o mais tolo: "Felicidade não existe."
O intelectual: "Não no sentido lato."
O empresário: "Desde que haja lucro."
O operário: "Sem emprego, nem pensar!"
O cientista: "Ainda será descoberta."
O místico: "Está escrito nas estrelas."
O político: "Poder"
A igreja: "Sem tristeza? Impossível.... (Amém)"


O poeta riu de todos,
E por alguns minutos...
Foi feliz!

sábado, 3 de dezembro de 2011

Quase sem querer

"Tenho andado distraído, impaciente e indeciso". Se, eu tivesse escrito esse trecho de música, dificilmente, conseguiria ser tão fiel a descrição de meus últimos dias - coitadinhos daqueles que convivem comigo diariamente... O que eu posso dizer, além de pedir (muitas) desculpas e torcer para que esses dias passem rapidamente?


"Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso,
Só que agora é diferente:
Sou tão tranqüilo e tão contente.
Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas, não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você.
Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos!
Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas,
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?
Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto.
Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê
E eu sei que você sabe, quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você".

Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Smile (Charles Chaplin)

Smile, though your heart is aching
Smile, even though it's breaking
When there are clouds in the sky
You'll get by...
If you smile
With your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll find that life is still worthwhile if you'll just...
Light up your face with gladness
Hide every trace of sadness
Although a tear may be ever so near
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just...
If you smile
With your fear and sorrow
Smile and maybe tomorrow
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just Smile...
That's the time you must keep on trying
Smile, what's the use of crying
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just Smile.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Poeminha do contra (Mário Quintana)

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho

terça-feira, 25 de outubro de 2011

E, no meio do caminho tem muitas outras coisas além de pedras!!!

Fazemos muitas coisas durante o dia, desde as tarefas mais simples e rotineiras, até as mais sofisticadas, sem falar naquelas que aparecem de última hora e nos tiram o fôlego, o sono, o sossego, enfim! Em alguns momentos, temos a impressão que sobram horas no dia, em outros tantos, faltam dias nas horas... Mas, o que, muitas vezes, nos esquecemos são as pessoas que nos acompanham durante toda essa aventura que chamamos vida! Acabamos nos acostumando a negligenciar sentimentos e situações em prol de um futuro que nem sabemos se irá chegar, além de deixarmos de fazer o que nos deixa felizes hoje para, talvez, sermos em breve... Esse texto não é de forma alguma uma queixa, e, muito menos, um desabafo, ele é apenas uma reflexão de um outro texto que li mais cedo (em um jornal espanhol) que, entre outras coisas, abordava a pseudo-ignorância do ser humano em nunca entender os motivos das relações se findarem, dos amigos virem e irem, dos amores chegarem e partirem, e que tudo na vida (por mais difícil que seja aceitar) tem um fim. Enfim, no fim das contas o que, realmente, ficam são as sensações, os aprendizados, as coisas construídas, as experiências vividas, as lágrimas derramadas, os sorrisos estrondosos, as palavras ditas (ou negligenciadas), os silêncios gritantes, as chegadas, as partidas, a ausência, o encontro, o reencontro, a saudade que machuca, as fantasias, as realizações, as conquistas, as perdas, o que vimos, o que imaginamos, o que queríamos, o que sonhamos e o que lutamos para conquistar até o fim...

domingo, 16 de outubro de 2011

Declaração oriunda do além-ar (porque o mar e a terra já foram usados)

"Para Falzinha
... A primeira vez que eu não te vi
Eu não senti, apenas notei
Era dia, talvez a Fal(ta) da luz lunar
Tenha ofuscado meus olhos

E na segunda vez que não te vi
Não havia nomes
Havia flores
Mas eu não podia percebê-las
Ainda era muito cedo
E a borboleta ainda não havia cumprido
Seu papel

Continuava dia e cada dia que passava
Era sempre dia
E eu não te via

Na terceira vez que não te vi
Havia um sorriso
Havia flores e havia nomes
Já era tarde e finalmente começou
A anoitecer

O sol se pôe, a lua fica
É noite à claro, às claras, estrelas
Cedo, ou tarde, em cena
Sem dó, sem dor, a golpes de não-não-não
Finalmente meus olhos começaram a ver
O que não se vê sem sentir

Foi preciso anoitecer em mim
Para notar a tua luz
E agora, que já entendi
Posso dizer que te vi
Será que um dia você vai olhar pra mim?"

(Gutch)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Intolerância com os iniciantes

Eis que minha mãe acaba de encontrar o boletim de quando eu cursava a alfabetização (foto de menina assustada colada na frente e no meio notas altas e elogios impulsionadores - e esperançosos - da professora, ou melhor: da "tia")! Na verdade, isso caiu como uma luva, pois quando ela encontrou esta "relíquia" eu já pensava em escrever sobre a crueldade e a impaciência que muitas algumas pessoas tratam os iniciantes.
Ora, ninguém nasce sabendo absolutamente nada! No máximo, sugar para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento do corpo... Aos poucos, somos ensinados a viver neste imenso mundo, que nos surpreende a cada momento com novas necessidades, de forma que só paramos de aprender algo no momento em que somos lançados à terra!
Mas, mesmo que isso soe natural e não cause qualquer estranhamento, a simples idéia de lidar com um aprendiz não agrada muita gente. Piadas e comentários maldosos, afim de gerar insegurança e nervosismo, parecem dar prazer àqueles que já se esqueceram que um dia estiveram do outro lado - também aprendendo - ou, àqueles que ainda não tiveram coragem de dar um passo rumo ao desconhecido, ultrapassando assim a tão famosa "zona de conforto".
Porém, a cada dia que passa, tento não dar ouvidos para os intolerantes e sigo meu caminho como se nada tivesse acontecido. Lógico, que em muitos casos me sinto perdida e decepcionada comigo mesma, mas ao me deparar com o boletim da alfabetização, me dei conta do longo caminho traçado desde as primeiras letras, e recordo-me quanto era difícil, e ao mesmo tempo, fascinante compreendê-las!

sábado, 24 de setembro de 2011

Se...

... eu não fosse tão ansiosa...
... eu pensasse muito antes de agir...
... eu não mudasse, rapidamente, de idéia...
... eu conseguisse terminar tudo aquilo que eu comecei...
... o meu "nunca mais" durasse mais do que cinco minutos...
... o meu "não" fosse definitivo...
... eu não ouvisse vários estilos de música...
... eu não estendesse a mão para quem precisa...
... às vezes, eu não me esquecesse de mim para ajudar a quem eu gosto...
... eu não fosse movida pela paixão...
... eu não tivesse certezas eternas que se esvaem como as ondas...
... eu não fosse flexível como a água...
... eu não tivesse a cabeça nas nuvens...
... eu não olhasse para os lados...
... eu não me dedicasse a mil coisas ao mesmo tempo...
... eu não gostasse de viajar...
... eu não gostasse de teatro, cinema e outras expressões artísticas...
... fosse da noite e não do dia...
... eu não fosse carinhosa e atenciosa com quem eu gosto...
... eu soubesse dançar e cantar maravilhosamente...


... então, eu não seria eu!!!

domingo, 18 de setembro de 2011

Como dizia o poeta (Vinícius de Moraes e Toquinho)

Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quando a comida é boa... para ouvir?!?

Nossa música está repleta de letras que falam diretamente sobre a comida (muitas vezes, descrevendo receitas), ou abordam sobre as emoções que ela suscita nas pessoas. Confesso que foi divertido buscar algumas letras - de diversos artistas e estilos - que abordassem  esse tema, selecionei algumas que consegui lembrar e encontrar em sites de busca.

"Feijoada Completa
Mulher, você vai gostar,
Tô levando uns amigos para conversar,
Eles vão com uma fome que nem me contém,
Eles vão com uma sede de anteontem
Saca a cerveja estúpidamente gelada para um batalhão,
E vamos botar água no feijão.
Mulher, não vá se afobar,
Não tem que por a mesa, nem dar lugar
Põe os pratos no chão, e o chão tá posto,
E prepare as lingüiças pro tira-gosto
Uca, açucar, a cambuca de gelo e limão,
E vamos botar água no feijão
Mulher, você vai fritar (ah vai!) um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja Bahia ou da seleta,
Joga o paio, Carne seca, tocinho no caldeirão,
E vamos botar água no feijão.
Mulher, depois de salgar, presta bem atenção
Passa um bom refogado que é pra engrossar
Aproveita a gordura da frigideira,
É melhor temperar a couve mineira,
E diz que ta dura, pendura, fatura no nosso irmão,
E vamos botar água no feijão.
Mulher, você vai fritar um montão de torresmo pra acompanhar
Arroz branco, farofa e a malagueta
A laranja Bahia ou da seleta,
Joga o paio, Carne seca, tocinho no calderão,
E vamos botar água no feijão
Mulher, depois de salgar (Não vai salgar muito)
Passa um bom refogado que é pra engrossar
Aproveita a gordura da frigideira,
É melhor temperar a couve mineira,
E diz que tá dura, pendura, fatura no nosso irmão,
E vamos botar água no feijão.
Não esquece o alho, bastante alho
Pra dar aquele né
Não bota pimenta do reino, não
E não esquece a cerveja bem geladinha que é pra descer bonito
Ô amigo, traz uma aí pra gente xará
Pode deixar que eu trago
Fica tranquilo que eu nao vou deixar a banana comer o macaco"

"Jiló com pimenta
Pimenta pode ser da mais ardida
Pois no meu peito já houve ardência maior
Não tenho preferência por comida
Obrigado nessa vida, já engoli coisa pior
Por isso nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepara, ô nega pode preparar o jiló
Mais pimenta
Já engoli sapo, já tomei catrapo ninguém teve dó
Aprendi que nesse mundo não se dá ponto sem nó
Sou vagabundo sofrido quase reduzido a pó
Por isso nega, ô nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepara, ô nega pode preparar o jiló
Pimenta pode ser da mais ardida
Pois no meu peito já houve ardência maior
Não tenho preferência por comida
Obrigado nessa vida, já engoli coisa pior
Por isso nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepara, ô nega pode preparar o jiló
Já mandei fechar meu corpo
Me benzi com água benta
Mas houve praga mais forte dessa gente agourenta
Não há ninguém 100% poucos são pedra 90
Então ó nega prepare o jiló com pimenta
Poker é como bebida birita colher de coco
Por isso nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepara, ô nega pode preparar o jiló
Quando um pobre se lamenta, mais um rico se contenta
Por isso nega, prepare o jiló com pimenta
Vou roendo pedra dura, sonhando com pão-de-ló
Por isso nega, pode preparar o jiló
Ô nega pode prepara, ô nega pode preparar o jiló
O homem só aprende a vida quando nela se aposenta
Por isso nega, prepare o jiló com pimenta
Eu tenho que dar um jeito, pouca coisa a gente inventa
Ó nega prepare o jiló com pimenta
Vamos batendo na palma da mão e numa lata velha que o samba incrementa
Ó nega prepare o jiló com pimenta
Você diz que tá com tudo porém nada apresenta
Ó nega prepare o jiló com pimenta"

"Pé de Nabo
Ser assim é uma delícia
Desse jeito como eu sou
De outro jeito dá preguiça
Sou assim pronto e acabou
A comida de costume
Como bem e não regulo
Mas tem sempre alguns legumes
Que eu não sei como eu engulo
Brincadeira, choradeira,
Pra quem vive uma vida inteira
Mentirinha, falsidade,
Pra quem vive só pela metade
Quando alguém me desaponta
Paro tudo e dou um tempo
Dali a pouco eu me dou conta
Que ninguém é cem por cento
Seja um príncipe ou um sapo
Seja um bicho ou uma pessoa
Até mesmo um pé-de-nabo
Tem alguma coisa boa"
"Vatapá
Quem quiser vatapá, ô
Que procure fazer
Primeiro o fubá
Depois o dendê
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Procure uma nêga baiana, ô
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Que saiba mexer
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola, iaiá
Na hora de temperar
Não para de mexer, ô
Que é pra não embolar
Panela no fogo
Não deixa queimar
Com qualquer dez mil réis e uma nêga ô
Se faz um vatapá
Se faz um vatapá
Que bom vatapá
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Bota castanha de caju
Um bocadinho mais
Pimenta malagueta
Um bocadinho mais
Amendoim, camarão, rala um coco
Na hora de machucar
Sal com gengibre e cebola"
 

Por enquanto é só!!! Por enquanto...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Ego

Minhas flores preferidas são gérbera e girassol, a parte do dia que eu mais admiro é o entardecer, sinto-me sozinha e melancólica à noite e produzo melhor durante a manhã. Chocolate me faz feliz, enjôo facilmente de uma comida, dou risada de besteiras, assisto bobagens na televisão e no cinema e leio coisas idiotas. Acredito em Deus, mas em um Deus diferente daquele das aulas de religião (um Deus que é amor e que perdoa, não consigo imaginar um Deus punitivo); não sigo nenhuma religião, acho que o fundamental é o respeito pelo o outro. Leio horóscopo, sigo estrelas, aprecio a lua, ouço as ondas, gosto de sentir o vento no rosto, tenho o sorriso fácil, sempre que possível tomo banho de chuva, ando descalça e acredito em boas energias (também sei da existência das más energias). Já desenhei, já fiz dança contemporânea e joguei vôlei. Sei bordar, fazer crochê e tricô (terei uma velhice ativa!rs). Não sei cozinhar, apesar de adorar comer e me interessar pela alimentação. Injustiça me irrita. Academia de ginástica me dá tédio. E a academia intelectual me encanta. Muitas vezes falo sem pensar, ajo por impulso e não costumo mentir para fazer ninguém feliz e nem fazer algo que não queira para agradar outras pessoas. Não sou difícil de ler, meus olhos falam coisas que minha boca decide (com muito esforço) silenciar. Ainda acredito nas pessoas e em suas boas intenções. Meus sonhos não foram adormecidos, luto pelo o que acredito, sou teimosa, imatura, responsável e perfeccionista. Sou tímida, insegura e inconstante - oscilo entre a fortaleza de uma rocha e a fragilidade de um cristal. Meu instinto materno é aflorado, tenho a mania de querer resolver os problemas de todos e do mundo! Sou um mister de razão e emoção. Reconheço meus erros, peço desculpas quando estou errada e não perco a oportunidade de ouvi-las quando estou certa! Esqueço rápido. Tenho sede de conhecimento, quietude me angustia, novidade me atrai, o inesperado me encanta, amo viajar, mas preciso de uma razão e um porto para voltar. Sou carente, preciso de colo e de carinho, palavras bonitas e mentiras sinceras me atraem. Só sei escrever em prosa e invejo quem sabe fazer versos. Me concentro com música, qualquer tipo de música! Troco uma boa leitura por poucas coisas. Dá trabalho para eu sair de casa, mas isso não quer dizer que não goste de festa! Amo estar cercada de amigos, falar bobagens e ser eu mesma!

"Não me deixe só, eu tenho medo do escuro, tenho medo do inseguro e dos fantasmas da minha voz"

Eu tenho muitos medos. Tenho pavor de qualquer animal que se rasteje (por mais inofensivo que seja), desgosto de ratos, não gosto de ficar sozinha, não assisto filmes ou programas de terror, tenho medo de carros em alta velocidade, sinto-me insegura em veículos de duas rodas (bicicleta, inclusive), não gosto de janelas com grades, tenho receio de ser mal interpretada, de magoar, de ficar sozinha, abandonada e esquecida...
É natural sentir medo, li em algum lugar (que não faço a menor idéia) que ele é fundamental para a manutenção da espécie, mas não podemos ficar reféns dele, temos que superá-lo sempre que possível. E, quando isso acontece é muito bom! A sensação é maravilhosa!
Contrário ao medo é a coragem, e, esta semana, eu me descobri bastante corajosa! Normalmente eu ajo por impulso, mas desta vez eu consegui aliá-lo a uma escolha racional. Consegui o maior dos meus medos atuais: o medo de falar em público e ser julgada pelo o que foi dito. Para mim, sempre foi sofrível expôr minhas idéias e ideais para as outras pessoas, independente da quantidade ou "qualidade" dos ouvintes. É estranho porque nestes momentos eu me sinto demasiadamente vulnerável (é como uma sensação de ser um vidro prestes a ser atingido por pedras...). Algumas vezes, eu me preparo com antecedência, me convenço que sou capaz, mas quando chega a hora exata... nada sai como planejado! Isso é muito frustrante! Só quem compartilha este sentimento comigo sabe o que estou falando...
Mas, pela primeira vez, consegui deixar o medo de lado e fiz o que tinha planejado. Consegui falar para diversas pessoas, entre elas algumas que eu respeito tanto pela inteligência e produção acadêmica quanto pelos seres humanos que são. E, fiquei muito feliz com o resultado! Muito menos pelo o que foi apresentado (uma vez que será publicado brevemente), mas muito mais pela superação de um medo que, algumas vezes, me fez refém e me impediu de fazer o que eu sabia (lá no fundo!) que era capaz, mas que custava a acreditar.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Sobre menina-borboleta

Vivo em constante mudança! A cada sol que se põe sou diferente de como eu era quando ele nasceu! A vida é um constante aprendizado! Com o tempo, percebi que, para aprender é preciso estar atenta aos pequenos sinais que a vida nos dá, além de ser humilde e aberta para o novo. Confesso que isto não é fácil, às vezes o inédito amedronta e dá medo de tocar! É mais fácil fazer o mesmo caminho todos os dias, do que arriscar uma nova trilha que pode (quem sabe?) ir de encontro a um pôr-do-sol ou então o nascer de uma lua cheia!
Desde criança sou fascinada por borboletas! Os adultos a minha volta me diziam que eu não podia brincar com elas, porque eram prejudiciais a saúde e poderiam até mesmo cegar! Eles pareciam tão seguros daquela informação que eu me contentava em admirá-las a distância - podia passar horas vendo o vai-e-vem das borboletas, sempre tão leves, tão bonitas, tão atarefadas em um ir-e-vir infinito...
Cresci e o fascínio não diminuiu. Muito pelo contrário, ele se fortaleceu cada vez mais, tanto que eu acabei criando outros significados para estes seres! Há seis anos quando fiz minha primeira tatuagem soube exatamente qual desenho escolher e, em nenhum momento me arrependi da escolha. Minha borboleta - em cada traço, cor e até a estrela do final - tem sentido e significado (para mim, lógico!)!
O mais engraçado é que as pessoas que me conhecem remetem facilmente minha lembrança com estes insetos (além de pôr-do-sol, lua cheia, ondas na praia... pelo menos é o que dizem!).  Tanto, que eu tenho uma amiga que me chama de menina-borboleta (em troca eu a denomino menina-sol por causa da energia e da luz que ela emana nos lugares em que está presente), não sei ao certo porque ela me chama assim. É certo, porém que eu ainda não me considero uma borboleta, sou uma pequena lagarta (eca!rs) andando por aí, muito lentamente, crescendo e esperando o momento de se recolher quietinha no casulo (que deve ser muito doloroso e solitário, apesar de ser necessário) até o momento exato de abrir as asas e voar, cada vez mais alto (sem se importar com a brevidade da vida!).

sábado, 9 de julho de 2011

Pintura de guerra

Existem alguns dias em que nem devíamos sair da cama, sabe quando parece que acordamos com dois lados esquerdos? Pois, hoje foi assim! Mas, teimosa e desavisada como sou, não somente levantei como cometi, e fui vítima, de várias coisas desagradáveis, e o pior: o dia ainda não acabou!!! Eita dia comprido!!! Mas, o que me motivou a escrever não tem nenhuma relação com as horas tensas que tenho vivido, mas sim duas notícias que acabei de ler. Elas estão relacionadas diretamente com a relação dicotômica entre certo e errado que acabamos por considerar levianamente.
Tive que aprender, a duras penas, que não existe A VERDADE! Aquela senhora única, imponente e absoluta! E sim, verdadeS! Cada um defende seu ponto de vista a partir de seus argumentos e vontades, e nem por isso são menos sinceros e legítimos! Ora, inicialmente, devo me reportar às reportagens que me referi acima (devo salientar que somente estou me valendo do mais puro senso comum, ainda não tenho o conhecimento além do fornecido por um noticiário da televisão), elas falavam sobre a batalha dos Xavantes em reconquistar suas terras em uma área destinada aos indígenas, mas o que me assustou (e foi reforçado pelos comentários que ouvi) foi a leitura estimulada por este meio de comunicação ao salientar que nestas terras havia uma cidade com cerca de 3000 pessoas e diversos estabelecimentos comerciais e industriais, em que foram investidos grandes quantias de dinheiro.
A meu ver, tanto os índios quanto os moradores da cidadezinha estão corretos! Cada um está defendendo aquilo que lhe é de direito! Os primeiros defendem a posse da terra que lhes alimentam e que pertecem a si mesmos e a seus filhos e netos, enquanto os segundos, numa cultura distinta, defendem aquilo que foi comprado com esforço e economia. Quem está com a razão? Acredito que os dois! Quem é o detentor da VERDADE? Ambos, cada um com seus próprios interesses e argumentos. O que me preocupa, realmente, é esse jogo-de-empurra e distribuição/classificação de papéis entre bons e maus estimulado pela mídia, que por ser responsável pela formação de opinião, pode acarretar em prejuízos bem sérios, o pode, infelizmente, acabar em derramamento de sangue e muito sofrimento...

segunda-feira, 4 de julho de 2011

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Saudade

A saudade já foi abordada por poetas, músicos, pintores, escritores... Mas, ela é vista, quase sempre, como algo ruim, eu não vejo desta forma! Pelo menos não em sua totalidade! Vou explicar: somente sentimos saudade daquilo que foi bom ou importante para a gente, certo? Por exemplo, nunca vi alguém que sentisse saudade de uma dor de dente! De forma similar, a saudade somente acontece quando a pessoa que amamos está longe da gente - aqui me deterei a pessoas, principalmente, afinal a maioria das situações vividas foram compartilhadas, direta ou indiretamente, com outros indivíduos -, o que significa que elas têm papéis relevantes na nossa vida. Normalmente, tendemos a esquecer de dizer certas (e fazer) certas coisas para as pessoas que nos cercam quando compartilhamos muito tempo com elas (isto para aquelas que julgamos valer a pena, às outras somente educação e cordialidade já bastam!), mas quando olhamos para o lado e não as enxergamos as coisas começam a ganhar outro rumo... Alguém já disse, certa vez, que para dar valor é necessário perder, e se isto é verdade que seja uma perda temporária (mas nem por isso menos intensa e dolorosa) para que depois do reencontro novos valores e comportamentos sejam praticados com maior intensidade. Mas, quer saber? Sem demagogia, a melhor coisa da saudade é quando ela acaba!!! Porque enquanto ela existe tudo fica sem cor, sem graça, sem alegrias...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Quando o dia pede um pouco (ou muito) da poesia de Gonzaguinha


Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...

Ah, meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonita
E é bonita...

E a vida!
E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusão...

E a vida?
Ela é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...

Há quem fale
Que a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...

Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...

Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...

Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...

Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...

E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...

sábado, 11 de junho de 2011

Quando nem intelectual gosta de pobreza

Nós nos acostumamos com muitas coisas que não devíamos, sequer, admitir. Não causa mais estranhamento, na maioria das vezes, encontrar pessoas adormecidas nas calçadas, famintas ou pedindo dinheiro, sem qualquer gozo das coisas básicas que todo ser humano deve ter, assegurado pela Constituição (saúde, educação, moradia...).
Passamos indiferentes por pessoas nas calçadas comercializando seus corpos por qualquer quantia, muitas vezes sem qualquer perspectiva de mudança.
Somos interceptados por comerciantes de entorpecentes nos oferecendo suas mercadorias sem qualquer tipo de constrangimento.
Crianças moradoras das ruas, famintas, com seus rostos sujos e olhares distantes nos amedrontam quando o contrário que deveria ocorrer, afinal quem é o adulto da relação?
Esquecemos que eles "são tão gente quanto a gente", com suas dores, suas perdas, seus ganhos, suas vontades, suas estórias, seus sonhos...
Às vezes, parece que estamos nos tornando pessoas insensíveis, seres de pedra, sem qualquer comoção com o sofrimento alheio... mas, será que é isso mesmo?
Sei lá, ando meio desacreditada com tudo... pelo menos no que tange a mudança desta realidade de sofrimento, de fome, de desamparo, de desespero, de ausência de futuro... mas, o que fazer?
Seria tão fácil encontrar respostas já prontas, acho que, lá no fundo, escolhi CISO com esta ilusão! Pena que descobri que receitas prontas não existem! E as pistas para as resoluções destes problemas dependem de um jogo de forças e interesses muito grandes e intermináveis!
Já acreditei em várias coisas, sonhei diversas soluções que se mostraram impossíveis de serem realizadas, já tentaram me convencer de que "é porque é" e que eu devia aceitar, já quis fechar os olhos e não consegui, já quis gritar e fui calada, já quis agir e fui paralisada, já quis lutar e não conseguir seguir em frente...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias." (Pablo Neruda)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Vinte e seis aos vinte e seis

Eita que o tempo corre!!! Enquanto a gente fecha e abre os olhos os dias nos escorrem pelas mãos e, com eles boas e más experiências, que nos fazem seres singulares em um mundo habitado por bilhões de pessoas!!!
Aprendi, ensinei, amei, desgostei, sorrir e despertei sorrisos; muitas vezes chorei e fiz brotar lágrimas (tanto de felicidade quanto de tristeza) nos olhos de outras pessoas, construir planos exequíveis para, segundos, depois desistir deles, sonhei coisas mirabolantes e consegui torná-las realidade... Encontrei gente que quero ter sempre do meu lado (mesmo que a distância, às vezes, esteja sempre presente; afinal, estar perto nem sempre significa estar junto...), me deparei com algumas criaturas que preferia nunca ter visto e, muito menos, ter dividido momentos importantes (mas, qual caminho não tem pedras?), também já atrai gente louca e sem-noção...
Ri sem motivo, chorei por besteira, já fiz promessas que não pude cumprir; disse muitas vezes "nunca mais" (e, pouco tempo depois, estava lá repetindo as mesmas coisas), da mesma forma que repeti "pra sempre" incontáveis vezes, mesmo sem saber que o "pra sempre, sempre acaba", pelo menos na maioria das vezes...
Este texto não terá um fim, ele será escrito dia após dia e terá a co-autoria de pessoas queridas que me acompanham nesta caminhada (muito obrigada por existirem!!!)...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Acontece...


"A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas
Age como um deus doente, mas como um deus.
Porque embora afirme que existe o que não existe
Sabe como é que as cousas existem, que é existindo,
Sabe que existir existe e não se aplica,
Sabe que não há razão nenhuma para nada existir,
Sabe que ser é estar em um ponto
Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer".
(Poemas Inconjuntos, Alberto Caeiro)



Aí, a gente cresce... Envelhece... Se sente muito diferente, madura e adulta, até que encontra um velho amigo na rua (que te conhece desde pequena, é válido ressaltar) que te olha bem no fundo dos olhos e diz: "você não mudou nada"!!!É, né? Fazer o quê?rs

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Sobre Solón, o coração iluminado

Os próximos três tópicos, infelizmente, não foram escritos por mim... Eles foram escritos por um amigo muito querido, e antropólogo bastante competente - daqueles que a gente olha e fica com vontade de ser daquela forma quando crescer,rs - Por isso o "infelizmente" na primeira frase!
Espero que estes textos estimulem a curiosidade e sede de, cada vez mais, conhecimento para a leitura do livro que ele remete!
Boa leitura
!

Solón, o coração iluminado (Parte III)

Sólon é emblemático, um belo jovem, órfão como devem ser os heróis, misterioso, terno, integrado à natureza, que um certo dia, através da doença, recebe um “aviso” e para a sua salvação é “purificado” (só os limpos podem aproximar-se de Deus) por uma feiticeira. Descobre então que possui uma pedra no peito, um “coração iluminado”, a estabelecer a sua condição especial no mundo. E será a partir de um aspecto da situação existencial de Sólon que a autora irá explorar o filão da dualidade na vida social, ou seja, conforme Simmel, pensar numa solução fácil para o dilema da convivência entre opostos é imaginar o conflito como parte da vida social, quando o ponto fundamental é entender a ambivalência como una e congruente. E será a partir desse parâmetro que ela irá ampliar o espectro da discussão sobre gênero. Sólon, seguindo as características convencionalmente atribuídas ao masculino apaixona-se por Alícia, contudo, não tarda a também descobrir o seu amor por um homem, por Rossano. Sólon explicita a sua posição sobre a afetividade: “Nunca encontrei nos livros qualquer orientação sobre os beijos. Tampouco achei quem me ensinasse como escolher a quem beijar” (p.101). Enfim, a autora procura demonstrar que em cada ser humano existe sempre uma possibilidade de inclinar-se para um sexo ou outro, com mistura e alternada preponderância de homem e mulher. Esta é uma política emancipatória, plástica, flexível, aberta, em contraposição à guetificação ou fixismo identitário. Fiquei perguntando-me porque ela estabelece a concretude da relação entre os corpos de Sólon e Rossano, o que não se verifica entre Sólon e Alicia. Mas, poderia também haver ocorrido. Mas, caso fosse essa a opção cairíamos novamente nas convenções, onde a homossexualidade poderia realizar-se no campo privado, nos subterrâneos, enquanto a heterossexualidade permaneceria dominante no campo público?
Mário Rossano, é um contraponto à condição ambígua e imaturidade de Sólon, com sua vida de aventuras, ilegalidade e violência (atributos culturalmente masculinos). Alicia, a sua amada, apesar da paixão eterna – a ponto de subverter a genética -, manteve-se atrelada a sua condição de classe, submeteu-se, infeliz, às convenções, repudiando-o. Para mim, o grande parceiro de emancipação, de liberdade de Sólon, não é Rachel com a progressiva construção da sua identidade feminista, mas antes o taverneiro Rocha, que abandonou a sua família para viver um grande amor e o faz incondicionalmente, aceitando a partilha de Madalena com outros homens, sem exclusivismo
Óbvio, o livro de Rita Sanches, realista e fantástico, merece, não uma discussão antropológica, mas sim, uma abordagem que privilegie os seus componentes literários, sua linguagem, sua narrativa e personagens, suas cores, sons, odores, seu humanismo e sua luta pela respeito à liberdade e diversidade... Enfim, é um livro que não se abandona até o seu último capítulo, como diz Hélio Pólvora, emociona.

Solón, o coração iluminado (Parte II)

Carrera, um povoado imaginário, contido na América do Sul, que poderia estar no Brasil, guarda uma sociedade tradicional, hierarquizada e pessoalizada, onde todos têm a oportunidade de se conhecer e ocupar posições definidas. Uma ordem comunitária, sem grandes transformações, com sua específica noção de tempo, onde se perguntava o que fazer dos dias; como uma família, segmentada, é verdade, pautada nas tradições, violência e distinções que estabelecem quem tem o poder, contudo, unida por laços de submissão e lealdades (clientelismo), omissões e conveniências. A autora, à Nestor Duarte, decompõe o antigo poder político, mostrando a força do patronato, do caudilhismo imperante nas Américas menos afortunadas, a ordem privada que, no seu domínio, constrange e subordina os homens livres. Mostra a vida dos poderosos locais, seu encastelamento solitário, e a emergência da nova geração de privilegiadas (concentra-se nelas), que na sua insipidez existencial, marcam a sua distinção e arrogância, uma continuidade do mandonismo e, muitas vezes crueldade, da geração que iria substituir no poder. Sólon, por sua beleza e comportamento altivo, se tornará o “brinquedo exótico”, o “animal adestrado do circo”, dos seus desejos recolhidos. Sob outro plano tratará dos despossuídos, dos oprimidos, das classes populares, atentando para a sua riqueza existencial, contida numa vida comunitária, plena de sociabilidades, mistérios, aventuras e amores. A Taberna de España, como palco maior da vida boêmia do povoado, onde nas canecas velhas cheias de vinho tinto, transbordava a música, a dança, os amores fugidios, o sonho de felicidade. Maniqueísmo da autora? Talvez sim. E por que não? O certo é a força da sua narrativa, a forma como constrói os seus personagens. E eles vão aparecendo: os emigrantes apaixonados de Espanha; Dona Clotilde e suas “prendadas” alunas; Rachel, desde cedo diferenciada, a caminho do feminismo; a feiticeira índia Uiá; a senhora Etelvina, com seus filhos imbecis e sobrinhos loucos, no seu eterno leito de morte; as estórias e os desenlaces do Comendador Ortiz e do Juiz Miranda e de suas famílias, o enigmático e sofrido Mário Rossano; a doce e infeliz Alicia.

Solón, o coração iluminado (Parte I)

O romance de Rita Sanches (“Sólon, herói de algures”. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 2004 (Casa de Palavras. 1.2.3. v. 20; Prêmio Braskem de Cultura e Arte-Literatura) ao mesmo tempo envolve e fascina! O seu livro é a estória de um jovem, belo, órfão, pobre, morador de um povoado (Carrera) no interior da América do Sul. Ali, participa da vida simples, corriqueira e boêmia do povoado, mas, é compelido, por sua beleza e comportamento, a ser instrutor de equitação das jovens mancebas da elite local. Simultaneamente, conhece um jovem viajante que realiza atividades desconhecidas e tornam-se grandes amigos. A partir do viajante, toma conhecimento dos meandros da construção do poder na sociedade local. Desperta paixões e se apaixona, mas inesperadamente o seu amigo é assassinado, por tentar abandonar a condição de intermediário no contrabando internacional de pedras preciosas efetuado pelos poderosos de Carrera. Cônscio do comércio ilegal e da corrupção que permeava a construção da riqueza no povoado, também deve morrer. Preso, espancado, inesperadamente, consegue desvencilhar-se dos seus algozes, e vinga-se, matando sem piedade os dois filhos de um dos mandantes do assassinato do seu amigo querido. Sabendo-se perseguido, emigra para o Velho Mundo e jamais foi encontrado, tornando-se uma lenda no povoado e na região circunvizinha. Portanto, essa é, em termos simplificados, a trama heróica e policial desenvolvida por Rita Sanches em seu romance. Porém, por sua complexidade e consistência o livro permite várias outras leituras...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Gerânio (Nando Reis, Marisa Monte, Jennifer Gomes)

Ela que descobriu o mundo
E sabe vê-lo do ângulo mais bonito
Canta e melhora a vida, descobre sensações diferentes
Sente e vive intensamente
Aprende e continua aprendiz
Ensina muito e reboca os maiores amigos
Faz dança, cozinha, se balança na rede
E adormece em frente à bela vista
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda
Conhece a Índia e o Japão e a dança haitiana
Fala inglês e canta em inglês
Escreve diários, pinta lâmpadas, troca pneus
E lava os cabelos com shampoos diferentes
Faz amor e anda de bicicleta dentro de casa
E corre quando quer
Cozinha tudo, costura, já fez boneco de pano
E brinco para a orelha, bolsa de couro, namora e é amiga
Tem computador e rede, rede para dois
Gosta de eletrodomésticos, toca piano e violão
Procura o amor e quer ser mãe, tem lençóis e tem irmãs
Vai ao teatro, mas prefere cinema
Sabe espantar o tédio
Cortar cabelo e nadar no mar
Tédio não passa nem por perto, é infinita, sensível, linda
Estou com saudades e penso tanto em você
Despreocupa-se e pensa no essencial
Dorme e acorda

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Doces melodias

Eu sempre gostei de música, isso é fato. Ela me ajuda a esquecer o mundo ao redor e me faz focar, mais rapidamente, em algo; como nos últimos dias tenho que esquecer dos meus adoráveis vizinhos, do telefone que insiste em tocar e da porta que me faz lembrar que existem pessoas extra-casa, ela tem sido uma excelente saída!
Antes, eu ficava satisfeita em colocar um cd e ouvir todas as suas músicas, inevitavelmente seguia um roteiro: skank ("multishow", cd's 1 e 2), Capital Inicial ("multishow" também), Mariene de Castro ("santo de casa") de volta a skank ("cosmotron"), nesse instante era tempo de parar e comer alguma coisa, para retonar às músicas (com os cd's mais diversos) e ao texto. Mas, depois de algum tempo, acabei enjoando dos meus cd's (todos eles!!!) e comecei a apelar para as estações de rádio! No início, tudo certo!!! Mas, depois de um tempo acabei percebendo que eu sabia a ordem das músicas que iam tocar (porque diabos eles seguem uma lógica diária???Custava mudar um pouco???), em uma atitude desesperada partir para as estações "populares", resultado: pagodão (com suas letras ricas e complexas), definitivamente, não é o melhor ritmo para estudar, fica-a-dica!!!
Quando já estava quase desistindo, me lembrei da pasta "minhas músicas" do computador, como não tinha nada a perder cliquei nela, nossa, quanta coisa!!! Incrivelmente, tem de tudo nela: axé, forró, sertanejo, tecno, pop, rock, música internacional (inglês, francês e espanhol), bandas recentes e aquelas quem nem existem mais (de fossa a humor rasgado)... Lógico, que elas não apareceram nessa pasta do nada! Todas (ou pelo menos a maioria) foram "carinhosamente" escolhidas, por razões diversas, para serem alocadas no MP4, mas sabe como é "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades..." e as músicas se perdem entre muitas pastas, assim como o sentido para sua escolha, porém, juro não encontrar uma justificativa racional para ter músicas de alguns cantores que me recuso a escrever aqui de tão vergonhoso que é...
Mas, foi muito bom reencontrá-las, ainda mais porque ainda não pude ouvir todas... E, nessa estória toda, confesso, ser muito divertido olhar para a expressão de perplexidade de minha mãe na porta perguntando: "o que é isso???", enquanto a minúscula caixa de som toca coisas como "bomba" (de braga boys, alguém se lembra disso??? "Bomba, para dançar isso aqui é bomba, Pra balançar isso aqui é bomba, Para mexer isso aqui é bomba" Gosto de infância!!!), "barbie girl" (não, não é na versão nacional de Kelly Key), "se ela dança eu danço" (que até o "Rei" cantou!!! :D), "pelados em santos" (gosto de infância II) , "vaca estrela e boi fubá" (Patativa é poeta!!!) e... bom, se eu começar a falar, isso não terminar nem tão cedo!!!

sábado, 30 de abril de 2011

Um pouco de Chaplin...


"A vida me ensinou...

A dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração;
Sorrir às pessoas que não gostam de mim, para mostrá-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade, para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir; aprender com meus erros. Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças; sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo.
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhoso com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente, pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente, pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordado;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para "ver e ouvir estrelas", embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesmo tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher."

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Desejo

"Desejo primeiro, que você ame, e que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer e esquecendo não guarde magoa. Desejo pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconseqüentes, sejam corajosos e fiéis, e que em pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar, E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos; Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível. E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante; não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente, e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você sendo jovem não amadureça depressa demais, e que sendo maduro, não insista em rejuvenescer e que sendo velho não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste; não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom; o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a despeito de tudo, que existem oprimidos, injustificados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o João-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal; porque assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja, e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "Isso é meu", só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum dos seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo um homem, tenha uma boa mulher, e que sendo uma mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e no dia seguinte, e quando estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer, não tenho nada mais a te desejar".

Victor Hugo

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ainda é tempo!

"É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há".

Logo no início, devo alertar que hoje estou mais pensativa e melancólica do que o normal; sinceramente, não sei até que ponto isso é positivo ou negativo, mas só para ilustrar um pouco sobre o que estou falando, mais cedo li (não sei em que site) sobre a necessidade de falarmos o quanto amamos as pessoas; e para variar fiquei pensando sobre isso...
E, isso é a mais pura verdade, quantos de nós dizemos o quanto gostamos, admiramos e amamos as pessoas que, de fato, despertam tudo isso em nós? Sempre imaginamos que haverá tempo para dizermos o quanto elas são importantes, essenciais, especiais, únicas, queridas e amadas por nós, e, assim, vamos vivendo a vida, fazendo o que tem que ser feito, cumprindo obrigações, prazos, compromissos e adiando dizer tudo isso, seja por esquecimento, por timidez, por imaginar que não há necessidade ou por outros mil motivos... E, sem nos darmos conta, os dias nos escorrem pelos dedos e o tempo passa... e, dessa forma, o que nos resta é somente o arrependimento do que deveria ter sido dito, ter sido feito, ter sido vivido...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?"

Lembrei-me, há pouco, de uma brincadeira feita por um amigo, de que ele buscou em diversos bares, de norte a sul do país, um bar em que vendesse o tal juízo, que muitas pessoas recomendaram que ele tomasse, mas sem sucesso algum! No meu caso particular, eu acredito que não preciso mais de tal bebida milagrosa, acho até que errei na mão e um pouco menos seria o ideal!rs O que sinto falta nesse momento é confiança!
Às vezes, como Fernando Pessoa em "Poema em Linha Reta", sinto-me rodeada de semi-deuses! Conheço diversas pessoas que nunca erraram, que não têm medos, que são perfeitas em tudo o que fazem, que nunca se cansam, se entristecem e muito menos pensam em desistir ou parar tudo e buscar um novo começo! Ainda não cheguei ao ponto de querer desistir, a paixão, a vontade e os sonhos ainda persistem, ora menos pulsantes, ora mais fortes do que nunca!
Será que "gente como eu" é raro nesse mundo? Gente que se cansa, que sente dores pelo corpo, por causa do movimento repetitivo, que desanima, que se desespera, que busca (em vão, quase sempre) encontrar as fórmulas certas, e que, insistentemente, tenta, tenta e tenta...
Mas, apesar de estar com poucos nesse imenso mundo (mas, aqueles que realmente valem a pena! Afinal, "Narciso acha feio o que não é espelho"!), vou seguindo em frente com minhas dúvidas, erros, acertos e muitas tentativas, sejam elas fracassadas ou não! Caindo e levantando sempre!


Para quem não conhece, segue Poema em Linha Reta de Álvaro de Campos

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza".

terça-feira, 12 de abril de 2011

No meio do caminho tinha uma flor...

Sobre as pedras que encontro diariamente, é melhor guardá-las para construir coisas que, realmente, valem a pena!!! :P
PS: ver comentário




segunda-feira, 4 de abril de 2011

Dialética (Vinícius de Moraes)


"É claro que a vida é boaE a alegria, a única indizível emoçãoÉ claro que te acho lindaEm ti bendigo o amor das coisas simplesÉ claro que te amoE tenho tudo para ser felizMas acontece que sou triste"

terça-feira, 22 de março de 2011

Quem?

Estamos na época do amor líquido, das relações fugazes, superficiais e corriqueiras. Refiro-me a todas as relações interpessoais, desde as mais estreitas (com as pessoas que compartilhamos nosso dia) até aquelas com que dificilmente encontraremos uma segunda vez...
Outro dia, fui forçada a limpar a agenda do celular (às vezes, é bom ler o manual para não fazer besteiras!) e me deparei com vários números de pessoas que eu nem lembrava que existiam, mas que, por alguma razão, foram tão importantes em certas ocasiões que mereceram o armazenamento na memória do chip. Amigos inseparáveis que há anos não encontro, órgãos importantíssimos, parentes nem tão próximos assim e outras tantas que não faço a menor idéia de onde surgiram...
O que houve? Por que nos perdemos? Realmente nos perdemos? Quem mudou? Isso é bom ou ruim? Porque novos caminhos foram trilhados? Valeram a pena? Poderia ter sido diferente? Quais foram as causas e os resultados? Sempre perguntas sem respostas...   

quinta-feira, 17 de março de 2011

Ruídos

Quem me conhece sabe eu gosto de falar! Quando eu me sinto à vontade, falo, falo, falo, falo... Mas, todos os problemas que eu tive até aqui surgiram justamente pela falta de comunicação, ou melhor por causa dos ruídos na comunicação. Lembro-me das brigas homéricas que tivemos na época do Diretório Acadêmico porque não conseguíamos exteriorizar tudo o que pensávamos; mas isso, tanto nesse quanto em outros casos, se dava porque antes de sermos estudantes insatisfeitos com a situação da faculdade e do curso, éramos amigos. E por sermos amigos, tantas vezes imaginamos que o outro nos conhecia muito bem e que podíamos abusar das mensagens curtas, diretas e sem tantos rodeios. Mero engano!
É muito engraçado que quando não conhecemos uma pessoa, geralmente, nos preocupamos em sermos educados, atenciosos e delicados. A partir do momento que nos afeiçoamos, as palavras parecem que perdem valor e acabam sendo negligenciadas. E, sem querer, deixamos de dizer o que pensamos, o que queremos, o que nos deixa infelizes, o quanto gostamos, admiramos e amamos. E, algumas vezes, a relação se rompe, sem nem deixar chance para a explicação, para o pedido de desculpas, para o perdão.
E, depois de tanto dar murro em ponta de faca, parece que ainda não aprendi, continuo sem saber o que fazer com as palavras, uso-as de forma leviana, infantil e irresponsável. Parece que falar por si só não basta, antes de falar é necessário saber o quê e como falar, para evitar ruídos, brigas e mágoas. Mas, é valido lembrar que o silêncio nem sempre é uma saída, muitas vezes ele dói mais do que o barulho.
É, parece que as palavras de ordem são equilíbrio e "outridade", por mais difícil que seja praticá-las...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Sobre a Liga da Justiça e outras coisas

Todos os anos a criatividade dos compositores me impressiona! Não serei hipócrita o suficiente para dizer que "antigamente isso não acontecia!", as músicas de duplo sentido e sem alguma coerência lógica sempre estiveram presentes, sobretudo no carnaval, vamos combinar que as marchinhas passavam longe da inocência...
E esse ano não foi diferente!!! Tivemos de tudo!!! Desde invasão dos vilões à Liga da Justiça até processos à lojas por razões financeiras; perpassando por latas amassadas, peles lisinhas para ganhar beijinhos, cinderelas perdidas, garotas "totalflex" e chupetas na boca e na bochecha (entre outras tantas!!!)!!! Todas devidamente acompanhadas por coreografias tão inspiradas quanto as letras!!! Mas, se você entendeu tudo o que eu escrevi é porque você foi sim, quis sim e sua mulher não manda em você!!! Medo do que poderá vir pala frente...

PS: alguém poderia me dizer o que significa "tchubirabiron"?

quinta-feira, 3 de março de 2011

"Deus no coração e o Diabo no quadril"

É isso aí, já é "carnaval cidade"! Depois de quarta-feira o ano, finalmente, irá começar! Eu, particularmente, acho a energia dessa época do ano fantástica, meus olhos enchem d'água quando o mar de gente dança e canta de forma semelhante: "meu amor, olha só, hoje o sol não apareceu", ou então "CHI-CLE-TE"!!! Lindo, lindo, lindo!!!
Nos últimos quatro anos não fiquei em Salvador, sempre fujo (e não sou a "mulher-maravilha"!), mas quando assisto pela televisão sempre prometo que no seguinte estarei no meio desse povão, entretanto, sem perceber, já estou longe de novo... Talvez este carnaval seja diferente, talvez não...
Não serei saudosista a ponto de dizer que na minha infância era melhor, que os camarotes ainda não tinha invadido a cidade, e a festa pertencia ao povo (eu só tenho vinte e cinco anos, não sou do tempo das bandinhas e da fobica, peralá!!!)... isso tudo é verdade: o monstro do capitalismo abocanhou as ruas do povo que se espreme entre as cordas e a madeira... Mas, surpreendentemente, não conseguiu roubar o sorriso, a ludicidade e o sonho de não mais estar naquela condição, mas sim, nos camarotes e dentro dos blocos que segregam claramente a folia.
Alegria, exaltação e animação são as palavras de ordem! Desejo um carnaval responsável e de paz para todos!!!
PS: não resisto, e no próximo post escreverei sobre as pérolas sonoras desse ano!!!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Lisbon Revisited (1923)

NÃO: NÃO quero nada,
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!)
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-a!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul - o mesmo da minha infância -
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O conforto do conhecido

E, de repente, você tem o mundo, tanto o familiar quanto o estranho, em poucos metros quadrados! É, exatamente essa, a impressão quando estamos em uma praça de alimentação de qualquer shopping center.
Essa sensação ao mesmo tempo me agrada e me repulsa! Ah, como é bom saber, exatamente, o que virá no pedido feito em certos estabelecimentos de fast food! Mas, por outro lado, e a novidade? O aventurar-se por caminhos desconhecidos? Afinal, somos onívoros por natureza! Discurso bonito... tenho que me lembrar dele mais vezes...
São tantas as opções que o mundo moderno nos oferece, que acabamos perdidos e tendemos a escolher aquilo que já experimentamos outrora, e que não ofereceu nenhum problema ao organismo (tanto físico quanto social), é a velha estória de uma amiga que passou um mês almoçando durante todos os dias da semana em um mesmo restaurante (de shopping) e pedindo o mesmo prato, todas as vezes; somente porque tinha medo de arriscar outro pedido.
Ontem, lembrando desse episódio (que, juro, não aconteceu comigo, até porque não consigo encarar a mesma combinação por mais de três dias consecutivos), resolvi dar uma de neófita e não ir ao, bom e velho, restaurante "de guerra". Devo lembrar que eu vario os pedidos; somente o restaurante é que é o mesmo... ;)
Mas, como é difícil inovar! Fiz um passeio gastronômico até, finalmente, fazer minha escolha! Comecei especulando os sanduíches, passei pelas culinárias árabe, japonesa, italiana, americana, "caseira" e... acabei optando pela comida chinesa a quilo, tomando refrigerante e dividindo mesa com uma desconhecida!
Vale salientar que, foi a mesma comida chinesa que já comi trezentas vezes e, trezentas e uma, passei mal por causa do exagero nos condimentos. A mesma que, independente do dia da semana, tem a mesma opção de cardápio, disposto nos mesmos locais. O que me levou a "cometer" essa escolha? Ora, a familiaridade! Eu já sabia o que ia encontrar, o que ia comer e a reação que isso ia ter no meu organismo - nada que um remédio para estômago não resolva. Será, realmente, que vivemos em um momento de, intensa, gastro-anomia? Acredito que sim, pelo menos além dos muros de casa, quando a variedade de produtos e serviços, cerceiam a nossa escolha, e quando a neofobia impera, ou pelo impede de arriscar o totalmente novo, salvo quando este é acompanhado de devida apresentação por algum dos nossos pares.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Para meus queridos amigos do primeiro tipo

O poeta, certa vez, disse que "há duas espécies de livros. Uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores" (sim, ainda curto a fase "Mário Quintana"!rs); de forma semelhante, cheguei a conclusão que, também, existem dois tipos de pessoas: aquelas que nos extraem tudo aquilo que temos de melhor e as outras que, somente, fazem aflorar tudo aquilo que temos de pior. Porém, dividir o mundo em dois tipos é correr o risco de esquecer aquele terceiro tipo: os que não estimulam qualquer tipo de reação, nem para o bem, nem para o mal... Mas, sinceramente? Tendo a classificá-los no segundo tipo...
Há pessoas que, simplesmente, por existirem já nos fazem muito bem! Diferentes crenças tentam explicar tal fenômeno, umas dizem que se tratam de almas amigas, outras defendem a questão da energia, mas, para ser verdadeira, não estou muito interessada nas causas disso, mas sim nos resultados! Como é bom dividir o tempo com quem nos entende, que nos faz feliz, que nos faz sentir útil, bela (não somente na aparência física, mas por dentro!), interessante, inteligente, amável, feliz, divertida, compreensiva, leve...
Por outro lado (nem tudo são flores!), também têm aquelas criaturas que sempre nos irritam (mesmo quando não há motivo real e racional para isso), que nos inferiorizam, nos fazem sentir mesquinhos e egoístas - só porque queremos vê-las beeeeem longe! Elas extraem tudo o que no fundo (todos) temos, mas que nossa socialização faz questão de podar desde os primeiro meses de vida: raiva, sarcasmo, egoísmo, asco e outros tantos sentimentos e emoções negativas (além de um nó na garganta e um embrulho no estômago).
Mas, surpreendentemente (ou não!), quem nos faz tão mal, faz imenso bem para outrem! E, assim a vida continua, quem vai saber a real explicação para isso? Como já disse, não estou muito preocupada com isso, vou aproveitar os que me fazem bem (e que, provavelmente, também os faça) e mandar os que me fazem mal procurar quem os queiram! E já vão tarde!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Notas de uma antropóloga

Era somente mais um dia e sua única companhia era o tédio! Nada se movia ao seu redor, nem mesmo o ar, uma vez que a temperatura parecia estar mais alta do que qualquer outro dia do ano... Através do olhar de um observador mais atento, é possível perceber que ela não estava sozinha com o tédio, a bagunça também estava a confabular consigo! Mas, só era possível encontrá-la dentro de sua cabeça: os pensamentos iam e vinham, as idéias surgiam e desapareciam numa velocidade impressionante e as coisas se conectavam e se perdiam antes mesmo que a lógica se fizesse presente!
E assim, as horas lhes escorreram entre os dedos e, sem qualquer noção temporal, sentiu fome! Parou, olhou para o relógio e concluiu que não dava mais tempo de pôr em prática sua mais recente descoberta: ela sabia cozinhar! Não chegava a ser algo excepcional, na realidade, não era! Mas, como ela mesma me disse certa vez: "minha comida é altamente comível!" (tive que resistir ao trocadinho, não seria ela, na verdade, "horrível"?) A fome faz milagres! E, como esta já era de uma intensidade respeitável, ela saiu em busca de algo para se alimentar, depois de uma intensa busca pelas prateleiras do supermercado, seus olhos ganharam um brilho mais intenso ao ler as seguintes palavras em uma caixa:
"Tudo bem, você adora a praticidade. Mas, o cheiro bom de uma refeição quentinha leva você para junto das melhores lembranças. Amor de mãe, talento da avó, tudo fresquinho e com aquele gosto inconfundível."
Não conseguiu resistir e levou pra casa! Leu, atentamente, as instruções de preparo (quase 40 minutos no forno convencional e 6 minutos - apenas! - no forno de microondas) e optou pelo meio mais rápido e prático (paciência nunca foi sua principal virtude)! Após o tempo especificado pelo fabricante, passou a comer sua porção de Penne ao molho parisiense, buscando encontrar tudo aquilo que a descrição da caixa lhe prometera, mas sua busca foi em vão! Quer dizer, mais ou menos, de fato, como me disse, a comida estava verdadeiramente quente e o gosto era inconfundível: gosto de comida industrializada!
Apesar da frustração de não conseguir encontrar nenhuma referência a sua origem familiar em relação aos temperos de sua mãe ou avó (que um dia, se fizesse sua lição de casa direitinho, também seria muito parecido com o seu) estava livre da fome e apta para retornar aos seus afazeres, sem sequer se indagar (o que poderia se esperar dela) sobre o alimento (?) que acabara de ingerir, afinal, que importância tem isso? Ainda mais se nos lembrarmos que estamos acostumados a comprar felicidade, bem-estar e prazer!

Estranhando o familiar (parte II)





domingo, 30 de janeiro de 2011

Da felicidade (Mário Quintana)

Quantas vezes a gente, em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão, por toda parte, os óculos procura,
Tendo-os na ponta do nariz!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011