Hoje eu me sinto só.
E não é uma solidão boa. Sinto-me refém de minhas escolhas.
Prisioneira das opções que eu fiz em um tempo que achei que seria
bom para mim, talvez até seja um dia, mas hoje já não é. Estou
sem amigos e sem pessoas que só desejam seu bem. Não tenho quem
abraçar e estou tendo que me contentar com conversas virtuais que
deixam meus dias menos pesados e insuportáveis. Hoje eu me sinto só.
E não é uma solidão boa, daquelas que a gente necessita para
colocar os pensamentos em dia ou, simplesmente, para digerir os
inúmeros acontecimentos do dia. Estou saudosa de um cumprimento
sincero, de um beijo carinhoso ou um abraço apertado. Um sorriso
inesperado do meio da rua, ou a doce alegria de encontrar um velho
conhecido inesperadamente dentro do ônibus, na calçada, nos
corredores. Hoje eu me sinto só. E não é uma solidão boa,
daquelas que gente só precisa de um tempo para cuidar do corpo, da
saúde, da cabeça. É uma solidão quase insana, é uma solidão de
espaço compartido. É quando você não é dona mais do seu espaço
e se sente uma intrusa em sua própria casa. Hoje tenho que esconder
minhas pequenas conquistas para me proteger, tenho que camuflar minha
trajetória que tanto me orgulha, tenho quase que demonstrar uma
alegria que não me pertence e, tenho que fingir que está tudo bem,
afinal, sou uma privilegiada de poder ter o que eu planejei a curto
prazo (a parte trabalhosa e as escolhas difíceis não são levadas
em conta, foi tudo uma questão de “sorte”). Hoje eu me sinto só.
E a vida segue. A chuva cai. O frio aumenta. As folhas são levadas
pelo vento. Pessoas chegam, pessoas vão, enquanto eu fico, enquanto
eu fico, enquanto eu fico...
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