Essa semana eu fiquei feliz em saber que um coração ainda insiste em pulsar aqui dentro, que, apesar de todas as leituras sobre a teorias sociais, tive a prova de que ainda sou capaz de olhar para o lado e reconhecer o ser humano, com suas mazelas e sonhos. A ciência e a busca de explicação racional para todas as coisas tendem a endurecer seus adeptos, e, quando menos esperamos já naturalizamos certas situações que antes nos fazia gritar e espernear (infelizmente, conheço gente assim, que acabou se transformando no "homem de lata", de O mágico de Oz).
Aos poucos, nos acostumamos a não enxergar as crianças nas sinaleiras, as pessoas idosas atrás da gente nas filas, as grávidas em pé dentro dos ônibus, os deficientes que precisam de ajuda, e por aí vai... Semana passada, vi uma cena que me chocou e me entristeceu muito: eu estava dentro de um ônibus parado no semáforo, quando uma criança de, aproximadamente, seis anos, surgiu de outra esquina e começou a fazer malabares para os carros parados. Antes de começar a performance ela se abaixou e deu um beijo na frente do primeiro carro; a motorista não percebeu esse ato e sequer olhou para para o lado quando o menino pedia "um trocado", os demais carros também não deram atenção, até que o sinal ficou verde e a vida seguiu... Será, mesmo???
Outra situação que me perturbou, bastante, aconteceu hoje pela manhã: eu estava mais uma vez dentro de um ônibus (um espaço sui generis para reflexão,rs) quando, mais uma vez, o sinal de outra avenida ficou vermelho, um homem aparentando mais de sessenta anos, que poucos segundos antes se encontrava sentado no meio fio bebendo água ao lado de uma manga rosa madura, passou pelos carros parados pedindo dinheiro, dessa vez o transporte que eu estava seguiu e não pude ver o que se sucedeu...
Não sou a favor de medidas assistencialistas, acredito que ao invés de "dar o peixe" é necessário "ensinar a pescar". Aqui, porém, não questiono o fato de dar ou não dar dinheiro (eu também não sou adepta a esmolas, nem para ajudar a quem pede, muito menos para conseguir lugar no céu, como certa vez tentaram me dizer), o que mais me chamou atenção nessas duas situações narradas foram as formas que aconteceram e os atores envolvidos: um ser a ser formado e um outro que já deu sua contribuição para a sociedade.
O que será que significa para essa criança o ato de beijar a frente do carro? Como será que eles se sentem ao ser ignorados várias vezes durante o dia por diversas pessoas diferentes? Será que o menino é punido por não conseguir atingir uma determinada quantia de dinheiro? Será que ele continua tendo os sonhos e desejos comuns as crianças? Qual será seu futuro? Como foi o passado do idoso que depende de estranhos e da sua própria sorte? Como vencer as dores e dissabores comuns a idade? Como eles enxergam a vida? O que pode ser feito?
Perguntas que não serão encontradas em livros e, sequer, serão formuladas por corações endurecidos... não tenho respostas! Mas, não quero nunca perder o olhar sensível e a mente inquieta para para fazê-las, mesmo que pensar nisso seja difícil, doloroso e revoltante por demonstrar a minha limitação...
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