Às vezes, como Fernando Pessoa em "Poema em Linha Reta", sinto-me rodeada de semi-deuses! Conheço diversas pessoas que nunca erraram, que não têm medos, que são perfeitas em tudo o que fazem, que nunca se cansam, se entristecem e muito menos pensam em desistir ou parar tudo e buscar um novo começo! Ainda não cheguei ao ponto de querer desistir, a paixão, a vontade e os sonhos ainda persistem, ora menos pulsantes, ora mais fortes do que nunca!
Será que "gente como eu" é raro nesse mundo? Gente que se cansa, que sente dores pelo corpo, por causa do movimento repetitivo, que desanima, que se desespera, que busca (em vão, quase sempre) encontrar as fórmulas certas, e que, insistentemente, tenta, tenta e tenta...
Mas, apesar de estar com poucos nesse imenso mundo (mas, aqueles que realmente valem a pena! Afinal, "Narciso acha feio o que não é espelho"!), vou seguindo em frente com minhas dúvidas, erros, acertos e muitas tentativas, sejam elas fracassadas ou não! Caindo e levantando sempre!
Para quem não conhece, segue Poema em Linha Reta de Álvaro de Campos
"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza".
Maravilha de post e de blog! Muito bom! Adorei! Estou te seguindo!
ResponderExcluirComo ser humano? Se desde pequeno nos ensinam a ser Deuses?
ResponderExcluirQuando mais tarde o pano caí, e olhamos a plateia atonita, nos percebemos os não-deuses...
e o desalento cresce sem chão e sem raiz... aquela sensação de vazio, de algo perdido em alguma esquina da vida, mas não se sabe o que... nessa hora, por de tras de todas a mascaras de semideuses se sobrepõe e escondem os risos e lagrimas na vergonha de seres humano(a)(s)...
Adoro ler você, a cada dia que passa...
É bom ver a semente sendo colhida em qualquer canto, em qualquer riso, em qualquer lagrima, em qualquer conversa...
bjs