segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nona elegia

Mais uma vez, Rilke usa uma imagem como inspiração; se, na quinta elegia o recurso foi o quadro de Picasso, agora são os loureiros dos jardins de Duíno que incentivam o poeta a escrever. E, novamente a complexidade do simples... “Oh, não porque a felicidade exista, essa prematura dádiva de uma perda iminente. Não por curiosidade ou exercício do coração que lá poderia estar, no loureiro...”
A brevidade das coisas (e das pessoas) inquietam o escritor diante da imponente presença das árvores à sua frente: “mas porque estar-aqui é excessivo e todas as coisas parecem precisar de nós, essas efêmeras que estranhamente nos solicitam. A nós, os mais efêmeros. UMA vez cada uma, somente UMA vez. UMA vez e nunca mais. E, nós também, UMA vez, jamais outra. Porém este ter sido UMA vez, ainda que apenas UMA vez, ter sido TERRESTRE, não parece revocável”.
Escolher uma coisa, em detrimento de outra, é muito angustiante e difícil, uma vez que, o tempo não volta... Ele sempre segue adiante! Somos nós que temos que nos moldar a ele e, se necessário, parar tudo e refazer uma nova escolha e trilhar outros caminhos...
Perguntas, escolhas, medos, sensações de tempo perdido e de opções erradas... Tudo nos escorre pelos dedos e não conseguimos contê-los “em nossas simples mãos”. Recuar ou jogar-se? Falar ou calar? Amar ou não amar? Contemplar ou fechar os olhos? Conhecido ou desconhecido? Humano ou divino? Isto ou aquilo?
“Cada vez mais dissipam-se as coisas que ao nosso lado viviam e em seu lugar se instala um Fazer sem Imagem. Fazer, que tenta destruir a crosta limitante, quando a ação se desenvolve e toma novos contornos”.
Ao Anjos cabe os louvores do mundo e não o indizível; o que não é dito deve ser mostrado ou então guardado para si mesmo (mais uma escolha!), isto aliado ao fato de que Ele não se preocupa conosco... E, somente a Terra nos pertence!
“Que em nossos corações invisíveis se cumpra a sua metamorfose – infinitamente – quem quer que sejamos! […] Vivo. De quê? Infância ou futuro não decrescem... Uma caudalosa existência transborda em meu coração”.

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