sábado, 23 de outubro de 2010

Quarta elegia

A quarta elegia aborda uma sensação que atormenta os mortais, impendindo-os, algumas vezes, de prosseguir, de conquistar novas coisas, novos horizontes, novas emoções...
Desconhecemos a resposta da principal pergunta que fazemos, pelo menos uma vez, na vida: como será o FUTURO? Levando em consideração que, pouco menos de um segundo após escrever essa questão já pode ser considerado FUTURO, visto que ele não me pertencia no momento da sua elaboração.
O FUTURO nos escorre pelas mãos, sem nos darmos conta de sua chegada! “Oh, dias da infância, em que atrás das figuras havia mais do que passado e em que diante de nós não se abria o futuro! Crescíamos, é certo, aspirando, às vezes, tornar-nos grandes, talvez por amor daqueles que nada mais tinham, senão o ‘ser grandes’”. Mas, será chegamos a crescer, ou, pelo menos, somos grandes?
Nós “não somos lúcidos como as aves migradoras. Precipitados ou vagarosos nos impomos repentinamente aos ventos e tornamos a cair num lago indiferente. Conhecemos igualmente o florescer e o murchar”. Nos banhamos, durante toda a nossa existência, nas águas da incerteza, não sabemos de onde viemos e nem para onde, e como, vamos! Muito menos conhecemos nossos companheiros de jornada, mesmo aqueles responsáveis pelos mais longos suspiros, pelas mais tenras lágrimas, pelas mais doces palavras... Na realidade, nem mesmo nos conhecemos...
“Olhai: ergue-se o pano sobre o cenário de um adeus”. Tudo é um espetáculo! Mas qual é o roteiro a ser seguido? Quem são os atores? Sobre o que trata a peça? “Só então aparece o bailarino. Ele não. Basta. E enquanto se move com desenvoltura, muda de aspecto; torna-se um burguês e entra pela porta da cozinha”. Mas, eu “não quero essas máscaras ocas, prefiro o boneco de corpo cheio”, a vida é breve demais para apresentações sem intensidade, sem emoção, sem brilho, sem enredo! Pelo menos até o momento em que as luzes são apagadas e nos despedimos do público... “Mas isto: conter a morte, toda a morte, ainda antes da vida, tão docemente contê-la e não ser perverso, isto é inefável”.

2 comentários: