quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sétima elegia

Em busca de um amparo, desejamos “não, não mais buscar: que seja esta, voz da madurez, a essência do teu grito. Gritaste, em verdade, com a pureza do pássaro, quando erguido pela estação que ascende, quase esquece que é um ser desamparado, coração solitário lançado às alturas, na intimidade do céu”. O vôo sempre sem destino, algumas vezes rumo ao alto, outras tantas findadas a queda...
Durante toda a vida estamos em constante transformação – metamorfose -, dificilmente vamos dormir à noite da mesma maneira que acordamos pela manhã! Distintas situações (e pessoas) nos tornam diferentes, positiva ou negativamente, durante a jornada.
Somos eternos aprendizes! Caminhamos sempre por caminhos desconhecidos, e, nada conhecemos em sua totalidade (nem a nós mesmos!), porém “uma simples coisa aqui percebida valerá o infinito”. Mas, o que será ela? Alguém a possui? Serão essas mais perguntas sem respostas?
Nada é eterno e insensível as mudanças do tempo, porém “cada um de nós conheceu uma hora, talvez menos de uma hora inteira – duração esquiva às medidas do tempo, entre dois instantes – em que realmente existiu com plenitude”. E, nesse instante somos felizes! E, queremos, como toda a nossa força, que esse tempo não passe e que essa emoção se perpetue por toda a eternidade! Mas, não só isso! Queremos que o mundo saiba o quanto estamos felizes, e, algumas vezes, essa sensação é percebida pelos demais à nossa volta, mesmo quando nenhuma palavra sobre o assunto seja dita (mas, quem sabe um sorriso, um brilho no olhar ou uma música murmurada nos denuncie?)!
“Nossa vida transcorre na metamorfose: sempre decrescendo, o exterior desaparece. Onde havia outrora uma casa estável, ergue-se uma estrutura imaginária, atravessada, como que erigida em nosso cérebro”. A medida que nos transformamos, e crescemos, o mundo deixa de ser desconhecido e tão grande, porque dentro de nós, ele também faz morada – o homem é até mesmo capaz de atrair “para si as estrelas, deslocando-as da fixidez dos céus”!
A nossa grandeza minimiza a função confortadora do Anjo, “assim, pois não malogramos os pródigos espaços, os espaços que são nossos! (Que imensos devem ser, pois séculos do nosso sentimento não o esgotam!) Mas uma torre era alta. Ó Anjo, não o era até mesmo ao teu lado?”
Mesmo quando somos igualados (através do júbilo), a este ser celestial, ele é sempre distante e indiferente aos apelos humanos em busca de acalento e proteção. “Um abraço estendido é meu chamado. E a mão que ávida se espalma para o alto fica diante de ti, ó Inapreensível, como defesa e advertência, amplamente aberta!"

2 comentários:

  1. Talvez esse texto também passe por transformações... quem sabe?
    As Elegias de Duíno (Rilke) estão acabando, sniff :(
    Em breve a oitava elegia!!!

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  2. Curto muito as elégias. Valeu por postar.

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